sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

A Menina Dança

Quero que você saiba que eu sou um escroto. Mas um escroto do bem. Um escroto com referências. Que vai de Eduardo Galeano à Fernanda Young. Que é louco por Elis Regina. Que adora ler, escrever e fazer humor.

Sou fumante, flamenguista e preto. Faço samba e amor até mais tarde e tenho muito sono de manhã.

Sei que não é a melhor maneira de um pai se apresentar para uma filha. Não sei quantos anos você vai ter quando ler essas 'mal traçadas linhas'. Não sei nem se vai ler. Mas foi uma forma que eu encontrei de estar próximo de você. A maneira de você saber um pouco mais de mim. E o quanto eu te amo.

A última vez que estivemos juntos, passamos a manhã numa delegacia. Você tinha quase dois anos e brincava naquele lugar. Inocente. E quando eu olhei pra você, linda de amarelo, não sei porque me veio a intuição que ficaríamos muito tempo sem contato. Um exílio imposto pelas circunstâncias. E foi o que aconteceu. Faz três anos que não nos vemos. Ainda te vi, mais duas vezes, de longe. No começo eu achei que fosse morrer de dor e ódio. Mas depois foi passando... o ruim da vida é isso, filha. A gente se acostuma a tudo. É horrível essa constatação. Mas infelizmente é verídica.

Por outro lado, a gente aprende que tudo pode passar. Mas o amor fica. E eu te amo mesmo de longe.
Porque quando fecho meus olhos, a minha menina ainda dança.

Eu poderia ter sido o melhor pai do mundo se eu não tivesse permitido que me vilipendiassem esse direito.

"Quando eu cheguei tudo tudo tudo estava virado
Apenas viro e me viro mas eu mesma viro os olhinhos
Só entro no jogo porque estou mesmo depois
Depois de esgotar o tempo regulamentar
De um lado o olho e o desaforo e o que diz o meu nariz arrebitado
Que não levo pra casa, mas se você vem perto eu vou lá, eu vou lá
No canto, no cisco, no canto do olho a menina dança
Dentro da menina, a menina dança
E se você fecha o olho a menina ainda dança
Dentro da menina ainda dança
Até o sol raiar, até o sol raiar
Até dentro de você nascer, nascer o que há
Quando eu cheguei tudo, tudo, tudo, tudo estava virado
Apenas viro e me viro mas eu mesma viro os olhinhos..."

(Moraes Moreira/Galvão)